Fragmentos de várias.

Diana Coe
2 min readApr 29, 2023

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Vivências autistas através das metáforas.

Quantas partes de nós fragmentaram ao longo dos tempos?

As partes me rasgam.
Sólidas.
Indecisas ao amanhecer.

Quem vai acordar da vida onírica que me cerca entre as estrelas.

Das facetas que me assombram espreitando no meu ser.

Compondo um novo corpo, tangível, com vontade.

Das mentes que me assombram por não saber quem são.

Mas ao mesmo tempo, tão familiares quanto as marcas de nascença.

Do profundo desconhecido do quem sou. Âmago que desfalece em grãos de areia.

Perdidos no tempo, na formulação de um espelho quebrado que reflete os fragmentos de várias.

Partes de mim desconexas em uma não linearidade caótica.

Da teoria do caos que rege esse meu plano.

Das dimensões que tangem o tempo, despertas no mundo dos sonhos.

Que ganham vida a cada nova experiência onírica, mais real que a realidade.

De todas as entidades que me cercam, a minha própria é a mais perigosa.

Do ato que é se integrar em algo que não me reconheço. Mas que ao mesmo tempo rege os movimentos do corpo.

Essa mesma teoria do caos que me permeia, numa sequência de consequências viscerais.

Tão perdida agora quanto ao chegar nesse mundo. Em um espaço que não me cabe a alma.

Da relatividade que me transborda, com o insustento das águas que me sobem aos olhos.

Em cada desconforto do meu andar, indeciso, calculando os destinos com precisão.

Desprendida dessa realidade que me dissocia.

Mas tão nítida quanto uma supernova nos limites do universo.

Reinventando os tons, de cores que não existem nessa dimensão.

Tão vivas, emaranhadas em um conjunto de sons, do tom da forma.

Disforme, em uma simbiose arrasadora, que teme o próximo acordar.

Fundida em bronze, na carruagem do amanhecer. Partindo em um ciclo acompanhando o luar.

Das marés que me formam e me deformam. Num movimento constante dos ventos.

Que me sussurram trechos de um codex perdido.

Contando a verdade do porquê. Que sempre busquei a minha volta.

Essa busca inalcansável pelos motivos de sequências, coincidências, que me carregaram até aqui.

Arrastada pelo tortuoso tempo. Que me acaba.

E me desalma a cada despertar.

E me oculta o motivo do porquê.

De eu ainda não acordar.

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Diana Coe

Design, Ciência, Autismo, Emoção e Natureza. Tento ampliar as possibilidades de futuros e caminhos através de perspectivas neurodivergente e interdisciplinares.