Um precipício chamado Design.

Diana Coe
5 min readSep 21, 2023

--

Uma viagem atemporal através da subjetividade do Design.

Uma resposta aos que me perguntam por quê eu escolhi ser designer de marcas. :)

As vezes eu ficava pensando se uma profissão iria me estragar.
Eu gostava de tantas coisas completamente diferentes ao mesmo tempo e pra mim era impensável abrir a mão de uma delas.

Eu mudava de ideia do que eu queria ser a cada filme que eu via. De agente da polícia federal, pra fuzileira naval (é sério hahaha), pra direito, biologia, história, arqueologia, publicidade, etc. Bem que a Monika Bielskyte diz “Quem controla o imaginário, é capaz de controlar os futuros”. E meu futuro mudava a cada sensação, emoção, vivência, porque meu cérebro era (é, porque eu não morri) como um caleidoscópio preso numa máquina de lavar desgovernada que funciona em looping.

A mente de uma criança autista, tdah e com altas habilidades (ahsd), que literalmente pensa de uma forma divergente (completamente “louca” no sentido carinhoso da palavra) que tinha hiperfoco em áras completamente opostas. Não é que nada que eu via me interessava. Era TUDO que eu via me interessava.

Por “final” acabei no design depois de fugir correndo da publicidade, afinal eu gostava bastante de desenhar e na minha cabeça eu ia passar o resto da minha vida fazendo isso. Coitada kkkkk.

Qual minha surpresa ao perceber, depois de formada, na verdade, que no design eu encontraria a solução mais perfeita do mundo pra todos os meus problemas. Eu não só poderia criar coisas, desconstruir as coisas na minha cabeça pra criar algo tangível, como eu também poderia mergulhar em todo tipo de área possível, das profundezas do nosso Sol até um mito do Submundo da mitologia grega. Dar vida às coisas e também tirar vida de outras. Aprender a sentir na pele o ciclo da criatividade e toda experiência sensorial e emocional que ela traz.

Navegar pelas áreas muitas vezes nos obriga a destruir as pré-impressões e pré-conceitos que tínhamos como conhecimento superficial. É realmente extrapolar essa barreira da informação e chegar em um conhecimento mais transparente sobre o funcionamento e estruturas reais daquelas áreas específicas, suas histórias, suas correlações e todas as conexões possíveis que podemos fazer com outras áreas.

O Questionamento é atemporal no projeto.

Eu acho que se você não é uma pessoa muito curiosa você pode ter um pouco de dificuldade no início. Pois a curiosidade ajuda a gente genuinamente ir atrás de pesquisas mais elaboradas e porofundas. E isso ajuda o nosso projeto e nosso processo. A base da curiosidade é a pergunta, que é a base fundamental de projetos de marca. Perguntas, perguntas, perguntas e perguntas. Não só no briefing. Ele está presente no passado do projeto, no presente no futuro dele. É atemporal.

No briefing trabalhamos com a primeira bateria de questionamentos pra dar o pontapé inicial no nosso projeto. Dessas perguntas, mais perguntas vão surgir, que vão abrir espaços para as perguntas de pesquisa, de ideação e de tudo que vai permear a estratégia do projeto. Cada porquê, como e que.

Você já deve ter ouvido isso em uma penca de lugares, mas vou repetir aqui: saber fazer as perguntas certas é essencial. Não basta apenas sair atirando pra todo lado o tempo todo, claro. Mas ao invés de você ficar batendo cabeça demais logo de cara nesse início se permita tirar todo tipo de perguntas da cabeça. Da mais ridícula e ruim até as mais elaboradas.

Reserve um tempo cronometrado e experimente fazer um mapa de absolutamente o máximo de perguntas que você for capaz dentro daquele tempo. Utilize outras perguntas para gerar novas perguntas. Comece pelas perguntas. Essas perguntas vão acabar te ensinando bastante, porque até de perguntas nossa bagagem é formada. Então as vezes uma pergunta não ficou boa para algum projeto, mas ela pode caber em outro ou inspirar novas perguntas pra outros. Seja um colecionador de perguntas.

Seja a Enola Holmes do serviço.

Intrinsicamente ligado ao tópico anterior né? hahaha Mas eu acho que você enxergar o design de marcas como literalmente uma experiência positiva e imaginativa pra você pode mudar MUITO a forma com que você projeta os futuros da sua empresa e dos seus projetos.

Ser um detetive do seu objeto de estudo (porque sim, acaba que é nosso objeto de estudo para projetar uma “solução” ao final de um tempo) ajuda você a se interessar mais genuinamente por aquilo que está entendendo pra projetar e com isso vem a nossa flexibilidade cognitiva, que pode levar a gente por caminhos que antes não veríamos pois estaríamos na superfície demais, muito longe. E com isso perderíamos tanto, tanta coisa que contribuiria mais para aquele projeto.

As anotações que parecem rabiscos só, mas que lá na frente vão preencher lacunas e brechas importantíssimas. E com isso vem mais segurança pra tudo, mais confiança, coragem. Pra defender nossas ideias e nossos porquês de cada solução proposta, para guiar o cliente no processo, pra ganhar a confiança dele, pra saber por onde ir e evitar erros, perigos e obstáculos. Tanta coisa muda.

Treine seu cérebro para fazer conexões.

Precisamos de doses diárias de estímulos para simplesmente TUDO na vida. O tédio (o ruim!), as mesmices, acabam por nos desestimular de muitas formas e a mesma coisa acontece com o branding e o design.
Ambos necessitam de estímulos, de coisas inusitadas, de narrativas interessantes, que despertem o potencial criativo das outras pessoas, que aja na imaginação, que por si tem o potencial de controlar os futuros.

Nós designers temos uma responsabilidade enorme, pois nossos projetos deixam marcas em absolutamente tudo. E precisamos que essa marca tenha um potencial de transformação, um impacto positivo.

Quando trabalhamos a interdisciplinaridade no design (quando unimos duas ou mais áreas / disciplinas) trabalhamos essas conexões, esse inusitado, o elemento que tem uma narrativa e te convida a imaginar.

Quanto mais treinarmos nosso cérebro para fazer essas conexões de elementos distintos, mais nossa bagagem e visão aumentam, essa desconstrução de fatores para a construção de novos. É unir administradoras de condomínios com colônias isomorfas do filo Cnidaria (Anthos) ou o funcionamento dos corvos com um escritório de advocacia (Cury & Rodrigues).

Mesmo que no início nós comecemos da forma mais simples.. Forçando! hehehe No início, pra algumas pessoas, pode parecer uma coisa MUITO forçada, e vai ser. Mas você não vai começar direto nos seus projetos algo que você nunca testou, né? (dependendo de como você é). Experimente antes, faça alguns exercícios de conexão de áreas, de áreas com serviços, comece primeiro tentando criar o entendimento do que é de fato fazer isso.
E aí vá observando para implementar no seu processo! Exercite seu senso crítico, isso ajuda absurdamente.

Bom pessoal, muito obrigada pela atenção! Hoje resolvi escrever um pouquinho da minha visão do design de marcas e algumas dicas pra quem tem interesse em entrar ou migrar pra essa área!

Um grande beijo e até a próxima!

Di.

--

--

Diana Coe

Design, Ciência, Autismo, Emoção e Natureza. Tento ampliar as possibilidades de futuros e caminhos através de perspectivas neurodivergente e interdisciplinares.